2011-01-04

* NUMA NOITE EM 68 - CAPA

*

NUMA NOITE EM 68
Estudo histórico-literário 

Welington Almeida Pinto


Quando as palavras tocam o silêncio, a imagem é capaz de
retomar o ímpeto pelo diálogo.
Leila Diniz. Um dos principais rostos da geração 60 no Brasil. 
 A  atriz se revelou incansável militante pelo movimento da liberação da mulher.

*
Ano das Transformações

Com a intenção de não fazer
apenas uma narrativa documentária, a forma como a trama
foi disposta, ganha corpo a realidade que se enovela em romance, guiando o leitor a absolver, com clareza, o que é dito sobre as mudança comportamentais em 1968.

Ano de crueldade e violência.

No Brasil, a revolta contra a Ditadura Militar.
No Vietnã, os bombardeios norte-americanos matando em massa.
Nos USA, assassinados Martin Luther King - um gigante entre os homens, e
Robert Francis Kennedy, o Bobby.
Na Tchecoslováquia, a sangrenta intervenção soviética.
 

O livro narra tudo de uma perspectiva diferente, baseada
no conhecimento de quem participou da revolução mais importante dos costumes sociais no mundo, principalmente, quando a civilização contemporânea despe a sexualidade de parte de sua carga repressiva. 


Por isso mesmo,
a revolução feminista é saudada como a maior transformação social
desde a Revolução Francesa. E, a chegada da mulher
ao mercado de trabalho é o grande impacto cultural deste acontecimento.
Com sabor de lembranças,
literatura on-line a um clique de todos.


***

* FICHA CATALOGRÁFICA

*
NUMA NOITE EM 68


*

May Way - Paul Anka


***


2011-01-03

* INDICE COMPLETO COM LINKs PARA OS ENSAIOS ILUSTRADOS COM OBRAS DE GRANDES ARTISTAS MUNDIAIS.


*

Sonho de uma Noite em 68


             http://oficinadegerencia.blogspot.com/2008/05/1968-um-ano-de-transformaes-4.html
1968 - Um Ano de Transformações - bibliografia completa através de vídeo.

    Fatos, imagens, anúncios, fotos e publicidades que marcaram a vida
de quem era criança lá pelos anos 60-70.





01/I – PALAVRAS DE UMA CIDADE LATINA

* Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/1i-palavras-de-uma-cidade-de-alma.html

* Vídeo BH/1949: http://www.youtube.com/watch?v=5SIUgk9M-Dw&feature=player_embedded

* Foto: Maria Almeida Pinto, à direita, em Belo Horizonte/1927 -   Aquarela da pintora Tereza Aita – Auto-retrato – 1923 – Belo Horizonte/BR. 

 

02/II. ENCONTRO MARCADO

* Link: http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=320578456167722888&postID=3879510245757305479

* Desenho: Mulher, desenho de Chanina.

 


03/III. ESQUERDA, VOLVER!

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/3iii-esquerda-volver.html

* Foto: Lyudmila Pavlichenko - revolucionária  soviética

04/IV. RECORDAÇÕES AFETIVAS

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/4iv-recordacoes-afetivas.html

* Pintura: Toulouse Lautrec - Imagens de obras de toulouse lautrec

 

05/V. REVELAÇÕES AMARGAS

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/5v-confissoes-amargas.html

Foto: Mulher Taciturna - foto internet

 

06/VI. MENTES PERIGOSAS

* Link: http://umanoiteem68.blogspot.com/2011/01/6vi-mentes-perigosas.html

- il.: O Mundo de Frida - Alton S. Tobey

 

07/VII - PALCO DE SONHOS

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/7vii-ilusoes-perdidas.html

* Pintura:  Mulher na Janela, de Toulouse Lautrec

 

08/VIII - VISITANDO MR. FREUD.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/8viii-o-diva.html

Il.:  gravura Melancholia I , por Albrecht Dürer (1471-1528)

Vídeo You Tube - http://www.youtube.com/watch?v=cF2VwC-hoPw&feature=related

 

09/IX - APENAS UM SONHO

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/9ix-revelacoes-intimas.html

 * Pintura:  Nus, de Di Cavalcanti

10/X - O DESQUITE

Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/10x-o-desquite.html

* Pintura: Figura Femina, de Maria Leontina.jpg

 

11/XI – UM CORPO FORA DO LUGAR.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/11xi-depois-daquele-casamento.html

* Pintura:  Auto-Retrato, de Lucy Citty Ferreira.

 

12/XII – BENDITO FASHION. PURO LUXO.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/12xii-o-sagrado-do-fashion.html

* Pintura: Quadrados, de Mondrian"
* vídeo Interview with Coco Chanel
- http://www.youtube.com/watch?v=OLdGywfuH5s&feature=related

 

13/XIII – NA MANHÃ SEGUINTE

Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/13xiii-domingo-no-parque.html

* Pintura: Domingo no Parque, de Manet

 

14/XIV – O SOM DO VINIL.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/14xiv-no-ritmo-das-paradas-musicais.html

* Foto tirada em 1965, na casa de Vinícius de Moraes

 

15/XV – PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/15xv-pra-nao-dizer-que-nao-falei-de.html

*  Travessia/vídeo - http://www.youtube.com/watch?v=VFyNyZjRPiw

* Foto de músicos do "Clube da Esquina" com Juscelino Kubstichek de Oliveira, em Diamantina

 

16/XVI - E DEUS CRIOU O DESEJO DE AMAR

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/16xvi-e-deus-criou-o-desejo-de-amar.html

* Pintura: O Arlequim Azul, de Natalia Suvorova

 

17/XVII – SONHOS DE UM SEDUTOR

* Link: http://numanoitesem68.blogspot.com/2011/01/17xvii-antropofagia-de-don-juan.html

* Pintura:  Amores - Chanina.

 

18/XVIII – GERAÇÃO DESCOLADA.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/18xviii-geracao-descolada-de-1968.html

 * Pintura:   Les Temps Modernes, de Chagal.

 

19/XXV – PASSEIO NOTURNO POR UMA CIDADE PSICODÉLICA.

*Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/19xxv-nos-embalos-noturnos-de-uma.html?zx=2c8c3db6a82fa3bd

* Óleo de Amilcar de Castro: Belo Horizonte à Noite. Desenho: Tabac Opposite Palais de Justice, de Sylvia Plath.

20/XIX - ANOS DOURADOS

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/20xix-anos-dourados.html

 * Óleo:  Le Dimanche, de Marc-Chagall - 1954

 

21/XX – PRIMAVERA DE 68 NA FRANÇA.

* Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/21xx-as-barricadas-estudantis-de-maio.html?zx=3e15140e834de92f

* Vídeo Maio de 1968 - Paris - É Proibido Proibir - Manifestations.

 

22/XXII – O SAGRADO. EIS O MEDO

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/22xxi-deus-existe.html

* Pintura.: Santa Ceia, de Nicola Constantin. A artista plástica argentina dá interpretação erótica a cena tradicional.

 

23/XXIII – MUITO ALÉM DAQUELE JARDIM

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/23xxii-tempo-de-metamorfose-abaixo-o.html

* Pintura: Girassóis, de Van Gogh


24/XXIV - O SEGREDO DE SEUS OLHOS

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/24xxiii-o-segredo-de-seus-olhos.html

* Vídeo: - Simone_0001.wmv  - Simone de Beauvoir.

* Pintura: Lazar Segall

 

25/XXV – O SOL NAS PAREDES DE UMA BIBLIOTECA

Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/25xxiv-o-sol-nas-paredes-de-uma.html

Aquarela: Playmate after Rokeby Venus, de Salvador Dali, 1966 - publicada na revista "Play-Boy"

 

26/XXVI – ALMAS AVESSAS

Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/26xxvi-almas-avessas.html

* Pintura: Chanson de Montmartre, óleo de Anita Mafalti




27/XXVII – HISTÓRIAS DE AMOR E CAPRICHOS
 
Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/27xxvii-caprichos.html

* Pintura: Ovo' de Tarsila do Amaral

 

28/XXVIII – LUZES DA RIBALTA

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/28xxviii-cinemascope-color-by-deluxe.html

* Foto: Catherine Deneuve fotografada com Ives Saint-Laurent no lançamento do filme Belle de Jour, Paris.

 

29/XXVIX - OS TEMPOS MODERNOS

* Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/29-xxvix-memoria-feita-de-fantasias.html

* Pintura: The canoeists luncheon, de Pierre Auguste Renoir -1879.

30/XXX – CLARICE L.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/30xxx-que-misterio-tem-clarice.html

* Vídeo:  Clarice Linspector

 

31/XXXI – O CRONISTA

* Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/31xxxi-revelacoes-de-um-cronista-jovem.html

* Foto do Escritor em 1968, fazendo entrevista para o jornal Estado de Minas.

 

32/XXXII – OS IMORTAIS

* Link: http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/32xxxii-o-sabor-do-texto-em-veredas.html

* Gravura: Dickens lendo para seus amigos. Internet.

 

33/XXXIII – DOIS CORPOS INQUIETOS NA NOITE.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/33xxxiii-dois-corpos-inquietos-na-noite.html

*Pintura: Chagal

 

34/XXXIV – O VOO DO PÁSSARO DOURADO.

* Link: http://milnovecentos68.blogspot.com/2011/01/34xxxiv-o-voo-do-passaro-dourado.html

* Pintura: O Beijo, de Irene Sheri

 

35/XXX – NOITE DE UM SONHO DE VERÃO

* Link:  http://numanoiteem68.blogspot.com/2011/01/35xxx-uma-noite-fora-de-serie-em-1968.html?zx=3076391e5a36a3d

* Foto: cena do filme O Estado das Coisas, de Wim Wenders. Atores Isabelle Weingarten e Jeffrey Kime.

* PRÓLOGO


*
APRESENTAÇÃO

NUMA NOITE EM 68
 Livro Reflete sobre Cultura e Jornalismo


1968 - Redação EM. Foto: Evandro Santiago
 
 

 

1968 - O ANO DAS TRANSFORMAÇÕES.

Com a intenção de não fazer apenas uma narrativa documentária, a forma como a trama

foi disposta, ganha corpo a realidade que se enovela em romance, guiando o leitor a absolver,

 com perceptibilidade, o que é dito sobre as mudanças comportamentais nos anos 60.

Trabalho meticuloso, feito com riqueza de detalhes que exigiu um longo processo de criação.

 




Com certo medo da memória dos ‘Anos 60’ se diluir no tempo para as novas gerações, convenci-me de que valia a pena tornar acessível à curiosidade apressada do presente, algumas obstinações que marcaram a juventude ‘Paz & Amor’ do nosso passado recente, de uma época difícil de nossa história. A partir daí, para não cair no esquecimento, comecei a busca por ensaios literários em meus arquivos, éditos e inéditos, que registrassem práticas de uma era de grandes mudanças no comportamento social e político no Brasil e no mundo.

No fundo do baú encontrei Bela Belíssima, um conto escrito em algum momento dessa década, em que revelava grandezas e misérias do ser humano registradas no limite entre o fidedigno e a irrealidade. A partir do ensaio, como se fizesse um acerto de contas com o passado recente, trabalhei outros 35 novos capítulos, enovelados no livro Numa Noite em 68 - ano considerado ápice do movimento Liberdade & Igualdade, que sinalizava novas direções para as gerações futuras. 

Mesmo sem acesso a diários secretos, nem a cartas perdidas, estudei a história e deixei a imaginação fazer o resto com os olhos voltados ao acontecido no Brasil. A intenção foi tecer um livro que refletisse sobre cultura e jornalismo da época, dissecados por quem viveu o período, passeando entre a ficção e a realidade. 

A narrativa aborda a vida de um jornalista/escritor, solteiro, que encarava a mudança de comportamento com muito entusiasmo e de uma professora de literatura, casada, que sentia certa angústia com a efervescência dos tempos modernos. Parte da história se desenvolve numa noite de sábado do mês de dezembro de 1968, quando Suzana recebe em casa Mathieu, um velho amigo do seu esposo José Renato.

Outro aspecto significativo desse trabalho é a utilização de documentos na organização e desenvolvimento de cada tópico. No sentido mais abrangente, reeditei registros em diferentes linguagens e experiências humanas, especialmente, depoimentos, letras de música, textos literários, artigos de jornal, pinturas e fotos.

Trinta e quatro capítulos que investigam traumas históricos e rastros de um passado presente, envolvendo o protagonista num jogo triangulado de sedução, sexo e amor. Cada um funciona como fragmento, que possui vida própria e pode ser lido separadamente, de um ensaio maior. Tudo como se fossem várias narrativas interligadas que se fecham no fim.

Como motor de um jogo atraente, trouxe para o contexto da obra pensadores, cientistas, pintores, cineastas que oferecem importantes ferramentas para refletir sobre os anos 60 na sua inter-relação com o mundo contemporâneo. Selecionei imagens específicas para ilustrar cada capítulo, todas de forte efeito visual e linguagem luminosa, a fim de criar boa conexão entre o texto e figuras conhecidas do mundo fascinante da pintura.

Lá estão obras de Nicola Constantin, Maria Leontina, Lucy Citty Ferreira, Sylvia Plath, Natalia Suvorova, Irene Sheri, Anita Mafalti, Tarsila do Amaral, além de telas de Eugène Delacroix, Van Gogh, Renoir, Mondrian, Toulouse Lautrec, Marc-Chagall, Alton Tobey, Salvador Dali, Di Cavalcanti, Chanina, Lazar Segall, Dickens. Boa parte desses quadros faz parte do acervo do Museu d’Orsay, em Paris, representando o universo da Art Nouveau.

Numa Noite em 68 proporciona ao leitor, em ordem cronológica, conhecer episódios e relatos que marcaram o cotidiano da vida dos brasileiros num período histórico de opressão e sonhos. O livro, além de interessar a qualquer estudioso da História e da Literatura Brasileira, diverte e faz refletir com porções extras de saudades, que muitos ainda guardam. Falo do Malletão, em Belo Horizonte. O prédio era um fervedouro de ideias, alimentado por intelectuais e jornalistas de várias gerações, que se encontravam nos bares do mais velho shopping da cidade para debater o Brasil daquele tempo, mesmo com os ‘Arapongas’ do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) infiltrados no ambiente. O lugar era também território de resistência e transgressão, onde nos refugiávamos durante a época de opressão política no Brasil.

O resultado do trabalho não tem o rigor de uma pesquisa científica, trata-se apenas de uma experiência humana que faz um relato longo de uma época ‘muito louca’ da biografia do Brasil e do planeta, debatendo assuntos emoldurados pelo desejo juvenil de transformar o planeta Terra.

Com essa publicação, contando parte da recente História do Brasil, espero ajudar o jovem de hoje a interpretar e guardar a memória da juventude dos anos 60, que motivou ações de restaurar a sociedade, lutou, sofreu e morreu combatendo o golpe militar de 64 para que o nosso país fosse melhor para todos no futuro. De acordo com Colin Cherry, quanto mais compreendemos o passado, melhores nós entendemos o presente.

Da aldeia para o mundo. Mais 68, impossível.
 
 

 

Welington Almeida Pinto

* A história é a mais inteligível manifestação da vida, a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida. Cícero.

* * Obra de ficção: qualquer semelhança com pessoas, fatos ou situações reais será mera coincidência.
 


 

01/I - ENCONTRO MARCADO



*

Chanina Luwisz Szejnbejn

 Artista sombrio sem  abandonar as cores vivas. 
Neste quadro a firmeza do traço e o voo poético da cor marcam a unidade emocional
que transparece em figura de proporções, propositadamente, desconformes.

 


Sábado, 14 de dezembro, 1968. No dia da partida para Fortaleza, Mathieu acompanha José Renato até o Aeroporto da Pampulha. Na volta, passa rápido pelo pensionato onde vivia num quartinho, pega uma muda de roupa e segue direto para o apartamento do amigo. Pouco depois das nove horas da noite, desce do elevador do Edifício Solar, que o levou ao 10º andar. Depressa, ele vira à direita e caminha até a porta do apartamento anunciado. Toca a campainha e logo Suzana aparece, rindo.
- Heloooou! Olha ele aí!
- Boa noite, Suzana.
Trocam beijos nas faces, festivamente.
- Atrasado, ‘né?
- Não se preocupe, Math. Chegou na hora certa.
- Nada britânico, reconheço. Em mim, a pontualidade nunca foi um vício.
- Que importância tem isso?
- É.
- Agora, entre que a casa é sua. Entre e fique à vontade.
- Com sua licença.
- Sinta-se em casa – repete lentamente a mulher.
- Obrigado.
- Quer saber, nem vi o tempo passar, estava lendo.
- Ótimo. Ótimo. E aí, beleza? Tudo nos ‘trinques’?
- More or less.
- Mais para mais?
- Hummmm! Tentando, tentando.
- Muito bem.
Suzana enlaça o rapaz pela cintura, dizendo:
- Sem cerimônia, vamos.
A sala de visitas estava vazia. Ao entrar, a mulher acende as luzes do recinto, dá volta à chave na fechadura e tranca a porta do apartamento. Mathieu, com os braços ao longo da cintura, e uma das mãos brincando com um chaveiro, atravessa o hall e se acomoda no vasto sofá, bem em frente a duas poltronas e uma mesinha de centro - sobre ela, com ar solene, descansava uma estátua de Safo de Lesbos e alguns livros de arte empilhados. No teto, doze lâmpadas elétricas. Mas só duas estavam acesas, uma iluminando o jogo de sofás, outra a mesa de jantar, criando aconchego ao ambiente. Das janelas pendiam cortinas de voal bege, bastante sóbrias e, nos parapeitos descansavam jardineiras com flores naturais, para enfeitar e garantir atmosfera agradável aos ambientes da casa.
- Lindo seu apartamento! – avalia o amigo, com o rosto virado para Suzana.
- Acha?
- Sua cara.
- Não, não é. Mais, muito mais a do José Renato.
- É?
- Isso mesmo. Para não deixar dúvidas sobre quem manda no pedaço – ressalva Suzana.
O rapaz desconcerta-se. Faz um gesto amplo e sacode a cabeça. Em seguida olha para a amiga, mas logo desvia o olhar para a escultura na sua frente.
- Belíssima peça! – analisa.
E acrescenta:
- Como é distinta! Que ar inteligente! Parece viva, não é mesmo?
Suzana, já enrodilhada na poltrona, puxa algumas almofadas para junto de si.
- Também gosto. Do escultor Claude Ramsey. Clone, claro. O original dessa obra de arte genial está no Musée de Louvre.
Houve um momento de silêncio e êxtase. Depois, o rapaz toca a escultura com uma das mãos.
- Mostra a força erótica no mármore, parece até que vai se mexer! Seios incríveis..., tudo perfeito.
         - Ã-Hã.
- Safo viveu na cidade de Lesbos, Grécia Antiga, entre os séculos VII e VI antes de Cristo. Além de bela era poeta e ativista. Seus poemas sobre o amor sexual, o amor emocional e o platônico entre ela e outras mulheres cunharam o termo lesbianismo, como sinônimo de homossexualismo feminino.
- Eu sei.
- Safo de Lesbos é considerada a primeira mulher que lutou por direitos iguais entre os humanos – alude o rapaz.
- Sério?
- Sim.
- José Renato admira estatuetas. Vestígios do passado. O pai era colecionador apaixonado e, nessa convivência tomou gosto pela arte, memória do afeto – explica a mulher com as faces entre as mãos.
- Também admiro.
Suzana aponta outra peça no canto da sala, fazendo companhia à estante de livros:
- Anjo justiceiro Michael. Conhece?
- Sim.
- O olhar dele contempla o horizonte. Nos pés, segura o mal. Nas mãos sustenta a balança da Justiça. Sobra intensidade magnética, não?
- Magnifica! Percepção vigorosa, que só a arte pode revelar.
- Muito legal. Adoro.
Mathieu respira fundo. E ressalta:
 - Vejo nas estátuas inquestionáveis e primorosas testemunhas de um tempo de glória, repletos de recordações.
 - Sem dúvida.
O rapaz, descansando o rosto numa das mãos, começa a observar o outro ambiente do salão. Nele, havia uma imensa mesa retangular, forrada por uma toalha azul claro de linho. Sobre ela uma cesta de frutas, uma garrafa térmica de café e um aparelho de telefone escuro. Nas paredes, cobertas por quadros com molduras variadas, destacava a pintura de uma mulher com uma pomba na mão.
- Você, não é?
- Sim. Óleo sobre tela, pintado pelo Chanina.
- Fascinante!
- O quadro ou a modelo? – brinca Suzana, rindo.
- Ambos. Ambos. Você, como sempre, divina. Do pintor, gosto muito.
- De inegável originalidade pictórica, concorda?
- Indiscutível. Chanina, com estilo sóbrio e atento à luminosa plasticidade da figura humana, captou de forma admirável a expressão inteligente e bela do seu rosto, angelical. Um gênio!
- Angelical?
- Sim. Com esse jogo de verdes, ocres e azuis, revela os traços delicados de sua beleza externa e interna. Mais do que despir o corpo de seus personagens com traços virtuosos, sua obra oferece traduções importantes da vida interior da pessoa retratada, como se tivesse também emoldurando o seu pensamento. Chanina é mesmo um grande retratista! 
- Hummm!
- O impressionismo, com suas pinceladas da liberdade, influenciou Chanina a guiar-se pela imaginação, inventando sinais enigmáticos e formas fantásticas que encantam pela alegria e exuberância. Veja lá o destaque da pomba na composição, pintada com suaves manchas, faz do pássaro incontestável símbolo do afeto, fala por si. Dá leveza.
- Olha!
- Posso dizer que o artista conseguiu fundir nesse quadro o amor pela forma, o uso generoso da cor e o sentimento típico dos românticos ao retratar a paisagem da memória afetiva. Parabéns!
A mulher balança a cabeça, concordando. Mathieu:
- Querida, sabia que desde os tempos remotos é moda enfeitar a parede da sala principal de casa com o próprio retrato?
- Que nos diga José Renato – abona a mulher, apontando a mão para outra parede.
Mathieu vira o rosto e observa três telas que reproduziam o retrato de José Renato. Uma delas assinada pelo pintor Inimá, com seu apetite para alternar cores quentes e vivas, seguindo a gama de tonalidades complementares. Outra de Chanina.  A terceira de Herculano, mostrada em contornos mais definidos, divididos em prismas que assumem um aspecto mais Cubista. Três espelhos de leituras particulares.
A mulher acompanha o interesse do amigo pelas obras de arte de sua casa. Em silêncio, e bem à vontade na poltrona, ela acende um cigarro e oferece outro ao amigo:
- Sou fumante de cigarros com sabor. Incomoda?
- Nem um pouco – afirma o rapaz ainda com os olhos fixos na parede coberta de quadros dependurados.
- Está a fim de um cigarrinho incrementado?
- Bem...
- Já que não se aborrece o ‘fumacê’ odorífero, experimente um.
- Hummm!
- Os mentolados ou de cravo, são meus preferidos. Deliciosos. Além de fracos, a carteira é bonita.
- É fumo. Tem nicotina do mesmo jeito.
Suzana tenta justificar:
- Nem tragar direito eu trago.
- Mesmo numa relação eventual com o cigarro, você pode ser tragada pelo vício. A ciência está ai, cada dia mais, condenando o tabagismo. Tenta provar que é suicídio a longo prazo. Acompanho as pesquisas.
- Mesmo assim, o meu amigo fuma – adverte a mulher.
- Droga do diabo! Dá muito prazer, não dá?
Pausa. Suzana assegura:
- Por isso mesmo é raro ouvir alguém falando em abandonar o tabaco.
- Pior que é.
- Ai existe um pouco de glamorização, copiada do cinema.
- Talvez.
- Conheço pessoas que pararam de fumar substituindo o hábito por mascar chicletes, ou chupando balas de hortelã. Mas, com muita força de vontade, claro.
- É mais fácil substituir uma compulsão por outra. Ou uma dependência por outra – pondera o rapaz.
- Aceita ou não um cigarro com sabor?
- Aceito.
Suzana estende a mão e passa-lhe o maço.
- Se gostar pode ficar com a carteira. Tenho outra.
- Presente?
- Não é bem um presente, uma cortesia.
- Obrigado.
O rapaz cheira o fumo, antes de acender o cigarro. Depois de uma tragada, lenta e meticulosa, recosta-se na poltrona, justificando:
- Não tem jeito, numa boa conversa ele é sempre bem-vindo.
- E como é!
- Sem falar que é um ótimo tema para puxar assunto, principalmente, com uma senhora que tem traquejo social e que deve adorar uma boa prosa.
Depois de um gesto vago, Suzana aquiesce com a cabeça, ressaltando:
- Então vamos ter um papo muito animado. Falo muito, como todas as mulheres.
- Não fico atrás, também curto um bate papo. Ah, ia me esquecendo, trouxe uma lembrança para você.
- Para mim! O quê?
- Um livro.
- Oh, quanta gentileza! É o que mais gosto de ganhar.
- Imaginei.
- Obrigada.
- Penso que você é como eu, vacinada pelos livros.
- Desde menina.
Mathieu tira da bolsa a obra embrulhada para presente e oferece a ela:
- A Bela do Senhor, de Albert Cohen.
- Olha!
- Fiquei na dúvida entre dois lançamentos. Esse aqui, ou Orgia, de Túlio Carella.
- Acertou com Cohen. Numa outra oportunidade, eu leio os diários eróticos do escritor argentino, mestre do auto ficção.
- Ainda bem. Não sou de ir nessa mania do mundo literário de comprar livros porque todos estão comprando. Nada disso.
- Ã-Hã.
- Cohen emociona pelo lirismo e por sua apurada linguagem. O livro documenta a felicidade do encontro de Solal e Ariane que vivem uma aventura de fusão absoluta.
- Interessante!
Suzana abre o livro e lê a dedicatória com um trecho de Drummond: há um prazer sutil em confiar a mãos e olhos femininos um livro que nos comoveu ou fez pensar. Em seguida, ela agradece sorrindo:
- Rapaz cortês, gratíssima!
Mathieu acaricia-lhe a mão, dizendo:
- Há livros que parecem bons, mas não têm alma. Esse de Albert é bom e apresenta alma, elementos que dão a chave do livro. Pode crer. Narra uma comovente história de amor.
- Legal.
Depois de uma sorvida no cigarro mentolado, rapaz exclama:
- Calorão, hein?
- Escaldante!  O ar de verão me faz bem, mas, santo Deus, como está quente!  Sinto-me afogueada, um sacrifício e tanto, não?
- Insuportável.
- Calor do qual todo mundo está reclamando. Nenhum sinal de chuva no céu. Quase dez horas da noite e o ar ainda está bastante quente, nem vento soprando. Pelo que escutei na rádio os termômetros registraram 31 graus durante o dia. Sentiu?
- Andando pelas calçadas parecia maior, mesmo à sombra. Esse clima, às vezes, é muito ingrato – reclama o rapaz.
- Que tal um um copo de água fresca?
- Boa pedida. Depois um café, se tiver na garrafa térmica, para fazer boca de pito.
- Tudo bem. Vou pegar.
Suzana deixa a poltrona, caminha até a mesa de jantar, enche um copo de água e uma xícara de café e oferece ao amigo.
- Ainda está fria, toma.
O moço agradece e bebe a água num só gole. Depois, o café.
- Bom seu café. Muito bom.
A amiga sorri agradecida. E ressalta:
- Pelo que vejo gostou muito da pinacoteca do Zé.
- Muito. De peso, só de craques.
- Temos ainda uma cabeça de Cristo com sua assinatura. Recorda do quadro?
- Presente que fiz ao José Renato.
- Está numa das paredes do quarto de hóspede, mostrando que é um rapaz extremamente talentoso.
- Chique.
- E, em um porta-retratos, eu guardo meu perfil desenhado por você num guardanapo de papel, feito à beira da piscina do Minas Tênis, lembra?
          - Como se fosse hoje.
- Onde, aliás, você fazia a maior ‘média’ com as garotas, retratando todas que caiam nas suas artimanhas. Continua assim?
- Desenho para me divertir. Mas não posso negar que é uma boa maneira de comunicar com elas e estreitar relações.
- Suponho.
- Pode crer.
- Suponho que não é apenas como quem viaja em devaneios, mas como quem vai para uma boa colheita.
Risos. Mathieu:
- Acha que faço como Picasso quando viu na rua, pela primeira vez, a jovem Marie-Thérèse?
- Como assim?
- Encantado com a garota, abordou-a e disse: você tem um rosto interessante. Gostaria de fazer seu retrato.
- Exatamente.
- A arte é um dos meios que une as pessoas, já dizia Platão. É como o vinho, traz em si um bom motivo para fazer amigos. Cultura 360°, querida, cuja função é tocar as pessoas.
- Hummmmmm!
- Assim é a filosofia, a ciência e a religião. Veja na arte uma tentativa de dar maior sentido à existência, porque uma vida sem arte é uma vida menos interessante. Sabe disso, ´ne?  Eu não quero, alguma vez na vida, ter que lamentar oportunidades perdidas de ter feito arte.
- Espertinho.
Risos. Mathieu:
- Gosto do poder que a imagem exerce sobre as mulheres, mesmo sendo um desenho rabiscado sem maiores intenções.
- Duvideodó! Começa com a arte, e logo a mocinha acaba em seus braços – agulha Suzana.
- Putz!
- Faz parte do show, não é assim?
- Talvez. Pela lei da física, toda ação gera uma reação.
- Ã-Hã.
- Desde que se tenha liberdade para criação, nós podemos fazer de um simples desenho o silêncio que revela todas as palavras que se quer dizer.
- Nossa!
- Na verdade, diante de uma bela fêmea, eu quero mesmo é expressar meu desejo de felicidade. Sou um humanista secular. E, para o humanismo funcionar, você precisa oferecer alguma coisa em troca. Eu ofereço arte.
- Ã-Hã!
Pausa. O rapaz sorrindo:
- Cadê o guardanapo com o desenho?
- Está sobre um móvel lá no meu quarto, guardo com o maior carinho.
- Bom saber.
A mulher, depois de um olhar comprido para ele:
- Ô, cara, você tem a ‘manha’ para desenhar. Desenha legal.
- Ainda sou um estagiário com escasso domínio da técnica pictórica, pinto por recreação mesmo. Um dia viro pintor e retrato você de verdade.
- Jura?
- Prometo.
- Promessa é dívida, viu?
- Vou pagar.
- Êba! Fica me devendo essa.
- Claro.
- Pinta sempre, Math? – interessa Suzana.
- Às vezes fico um tempo distante do cavalete. Como a arte figurativa está dentro da gente, alguma coisa que fala mais alto, acabo voltando a pintar. Sinto que preciso pintar como alguém precisa comer ou beber. Juntar para dividir.
- Talento é coisa nata, nasce com a gente. Sei como é.
- Talvez. Arte é outra linguagem, ajuda a gente a ampliar a visão do mundo. Einstein acertou em cheio quando disse que um dos motivos mais poderosos que conduzem o homem em direção à arte e à ciência é o de escapar do cotidiano.
- Maravilha!
- Assim foi comigo desde a adolescência, quando vivia rabiscando personagens em meus cadernos de escola para fugir um pouco dos deveres escolares, crente de que a vida deveria ter a cor que a gente pinta.
- Quem sabe?
- Sempre fui inclinado a retratar o corpo feminino. Enche-me de alegria.
- Háháhá... Não poderia ser diferente.
- Na verdade, para todos que alimentamos alguma veleidade artística, o tema favorito sempre consagrou a figura feminina. Nua ou não a mulher inspira a alma de qualquer artista. Basta ver que, desde a aurora da arte, a beleza da fêmea tem sido assunto instigante para as palavras, os entalhes e os pinceis. E, a partir do século XIX, para as lentes de uma câmara fotográfica.
- Claro. Claro.
- Nós amamos as mulheres. Basta observar que, dos motes preferidos pelos grandes pintores, uma mulher expressiva é, de longe, o mais caracterizado.
- Sem dúvida.
- De qualquer forma, a ideia é mostrar o corpo feminino de diversos pontos de vista, mesmo quando o nu é retratado apenas como dicção figurada, sem dimensão erótica.
Suzana, depois de mudar de posição na poltrona:
- Ah, sim. Durante uma viagem a Paris tive oportunidade de admirar no Louvre, sem o menor desconforto, dezenas de mulheres nuas expostas. Inclusive o quadro A Origem do Mundo, de Gustave Coubert, que retratou o órgão genital feminino em close. A imagem é fantástica, mostrando a realidade de forma simples e poderosa.
- Incontestavelmente. O artista francês mostra que atacava suas telas com duas armas preciosas: excelência técnica e vigor emocional. A obra é muito objetiva, não qualifica, nem adjetiva coisa alguma. Arte de gente grande. Impactante, linda de ver.
- Alguns visitantes, em viagens surpreendentes pelas cores e imagens do museu, passam rápido tentando disfarçar o inesperado constrangimento. Outros ficam estáticos por alguns minutos frente ao quadro, emocionalmente admirados. Com certeza a obra leva todos a refletir.
- Claro – anui o rapaz.
- O belo, como a verdade, está ligado ao tempo em que se vive e ao indivíduo que está pronto para compreendê-lo. É o que está escrito, pelo próprio autor, no folheto que fala sobre a obra – lembra a mulher.
- Correto.
- O interessante é que a obra também despertava muitos olhinhos curiosos de meninas e meninos ao meu lado, que olhavam aquilo com grande admiração, sem risinhos. Tudo como numa sala de aula, assistindo aula de biologia, longe de inspirar desejos carnais.
- A cultura europeia é outra. Uma coisa é você ver uma tela no catálogo ou num impresso qualquer, outra coisa é ver o original numa exposição pública. A emoção é diferente, até para a criançada.
- Certamente.
- Na Europa, desde cedo as pessoas são educadas para ver e sentir as grandes obras nos museus, sejam elas qual for. A arte não pode ter barreiras.
- Claro que não...
Pausa. Mathieu, depois de uma tragada no cigarro:
- Querida, no universo das artes, existem admiráveis obras feitas com cena de nudez, criadas para dizer que a origem do mundo não está em Adão e Eva, mas numa vagina nua e crua. O quadro de Coubert, ilustra essa verdade e ganha significado porque fala com força ao nosso mundo interior. Com todas as gamas de matizes, a arte leva o ser humano a entender melhor a vida.
Suzana tranca o sorriso, discordando:
- Não é bem assim. Deus...
- A partir do cristianismo que o sexo passou a ser visto como sujo e pecaminoso. A mulher, coitada, taxada como um ser maligno passou a carregar a culpa de tudo. Tanto que, na vida real, era comum ter o ventre envolvido por um acessório para tapar sua genitália, trancado ao redor da cintura de modo a frustrar qualquer atividade sexual.
- Cinto da castidade?
- Coisa de louco! Imperdoável mal entendido criado pelos deuses, que perseguiam o órgão feminino como um mito da perdição masculina.
Pausa. Suzana abismada:
- Nossa! Deveria ser bem desconfortável viver com essa tranca de cadeia no meio das pernas, não?
- Assim era a lei ditada aos religiosos mais radicais. Totalmente desumana.
- Difícil até de imaginar.
- Por outro lado, tinham aquelas que usavam os cintos de forma espontânea para se protegerem. Evitar estrupo e, consequentemente, doenças venéreas.
- Caramba!
Depois beber mais um pouco de cerveja, Mathieu:
- Realizo-me nas duas vertentes. Mas, sinto mais à vontade na literatura que me dá a expressão maior - só sei viver escrevendo.
- Ã-Hã.
- Na verdade, em qualquer suporte, exteriorizamos o que existe por dentro.  Arte é movimento. É como se fosse um voo da imaginação que aterrissa na alma, portanto, nosso verdadeiro dever é salvar nossos sonhos, já dizia Modigliani que ensinou-me o amor às formas e volumes, fez-me concentrar no desenho que surge de seus pinceis. Adoro a obra de Modigliani.
- Eu também.
- Enfim, ao recriar a realidade por meio de sua visão particular num cavalete ou numa máquina de escrever, o artista consegue vencer o tempo. É só alegria.
- Eu não tenho esse dom, mas admiro muito quem tem.
- Admirar a arte é outro dom. Um dom especial, pode crer.
Depois de uma longa golfada de fumaça, Suzana:
- Quer saber, Math, fiquei mais sossegada quando o Zé disse que vinha passar esse fim de semana aqui em casa.
- Jamais recusaria, somos amigos.
- Rapazes têm coisas melhores para curtir num sábado à noite, não?
- Bobinha! Estou aqui para fazer e ter a sua companhia. Existe programa melhor?
- Espero que não.
Mathieu abre um leve sorriso de intimidade, lança os braços em volta do próprio corpo, acariciando-se. E pede:
- Quero outro copo d’água, pode ser?
 
 

 

* FBN© - 2012 – Encontro Marcado..., NUMA NOITE EM 68 - Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington Almeida Pinto. Iustr.:  aquarela da pintor Chanina – Belo Horizonte/BR.  Link: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/2ii-encontro-marcado.html

 

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